Colunas cromatográficas e farmacopeias

Quem trabalha na indústria farmacêutica já deve ter se deparado com a situação de precisar seguir um método oficial farmacopeico, ou seja, executar o teste conforme prescrito na monografia contida em alguma farmacopeia aceita pela ANVISA e, muito provavelmente se deparou com a descrição da coluna cromatográfica dizendo apenas “empacotada com sílica quimicamente ligada octilsilano” ou “packing L1”, que são as famosas fases C18. Então surge a grande questão: mas qual marca ou qual fabricante deveremos utilizar?

Este artigo de hoje é justamente para sanar essa dúvida dos analistas no momento do desenvolvimento ou aplicação do método analítico por cromatografia. Serão abordados como escolher a marca de coluna que irá para o método e, se realmente deve ser utilizada sempre a mesma marca escolhida.

Primeiro de tudo é preciso entender que as indústrias farmacêuticas dão preferência para utilizar em seus procedimentos, métodos contidos em monografias de farmacopeias oficiais, simplesmente porque, segundo a RDC 166/2017, em seu artigo 8°, traz que para a validação parcial, aquela feita para métodos farmacopeicos, pode-se realizar apenas os parâmetros de precisãoexatidão e seletividade, incluindo o limite de quantificação, quando o método for destinado à quantificação de impurezas. Isso facilita muito a rotina do laboratório, que passa a não precisar executar a validação completa, com oito parâmetros e avaliação estatística da linearidade.

Outra informação relevante é que a ANVISA, através da RDC 511/2021, dispõe sobre a admissibilidade de códigos farmacêuticos estrangeiros, dessa forma, passa a considerar farmacopeias de outros países como oficiais, listando em seu artigo 1° quais os compêndios internacionais aceitos, em uma lista de 10 farmacopeias, dentre elas, a Farmacopeia Americana (USP), Farmacopeia Britânica (BP) e Farmacopeia Europeia (EP), das quais iremos tratar neste artigo.

É sabido que as colunas cromatográficas possuem seletividade diferente, que a interação analito-fase estacionária pode variar de acordo com seu tamanho de poro, área superficial, carga de carbono, capeamento, ligantes intencionais e pureza da sílica. Se o analista buscar por L1, na USP, irá encontrar 1.025 colunas de marcas diferentes. E agora, qual delas escolher?

A marca da coluna é escolhida durante a fase de desenvolvimento/aplicação do método cromatográfico, baseada na seletividade necessária conforme o seu objetivo. Desde que a monografia que está sendo seguida não especifica qual marca utilizar, o analista pode, ao seu critério, definir qual será utilizada, contanto que siga às especificações requeridas e, acima de tudo, não precisa (e não deve!) ficar preso a só uma marca de coluna.

Ainda que, conforme a RDC 166/2017, não há necessidade em se fazer a robustez do método, é importante que seja, ao mínimo, realizada a verificação de diferentes fabricantes de colunas, através da robustez cromatográfica, inclusive, isto é indicado no anexo III desta resolução. É vantagem e facilita a rotina dos laboratórios que executarão estes métodos não ficarem amarrados a uma só opção de coluna, imprevistos no laboratório e com fornecedores sempre pode acontecer!

Bom, mas até agora foi falado das vantagens em seguir um método farmacopeico e não ficar refém de uma marca de coluna no método, mas e então, como começar a testar a seletividade do método em minha amostra e selecionar a primeira coluna para teste?

Inicialmente o analista deve conhecer seu laboratório e avaliar a variedade de colunas disponíveis. Dentre elas, cabe conhecer suas propriedades e estimar se fornecerá a seletividade necessária de acordo com o objetivo do método. Outro ponto bastante eficiente é buscar a informação de qual marca de coluna foi utilizada na monografia farmacopeica, como já dito, na monografia não virá descrita a marca, porém, existem alguns caminhos em que essas informações podem ser consultadas.

As colunas utilizadas em monografias da Farmacopeia Brasileira (FB), pelo menos até onde vai o conhecimento da autora deste texto, não podem ser consultadas no que diz respeito a marca ou fabricante, mas para USP, EP e BP existe caminhos oficiais para isso e, melhor de tudo, com acesso gratuito.

A USP possui dois canais para que essa consulta seja feita, o site USP Chromatographic Columns, com um banco de dados contendo além todas as colunas utilizadas nas monografias de IFA e produtos terminados, informações sobre as codificações utilizadas pela farmacopeia, como L1, L7, L11, etc. A Farmacopeia Americana também possui o site USP Pharmacopeial Forum, onde são encontradas todas as monografias que serão revisadas ou incluídas como oficiais, além de todo o histórico dos métodos. Neste site, assim como é possível encontrar informações sobre a marca de coluna utilizada, pode-se encontrar informações a cerca de tempos de retenção dos picos.

Similarmente à USP, a EP possui um banco de dados onde é encontrada a informação da marca e fabricante das colunas cromatográficas utilizadas, este site é o EDQM Knowledge Database, o mesmo caminho para buscar informações sobre os padrões provenientes desta farmacopeia. A EP, inclusive, possui seu fórum de discussões para as monografias em revisão ou inclusão e o histórico das monografias oficiais, trata-se do site Pharmeuropa Online. Para os métodos de monografias da BP, o analista encontrará as informações na área de Draft do próprio site da British Phamacopeia, onde vale uma busca no campo Search, pois muitas vezes é possível encontrar informações bastante relevantes, como o cromatograma resultante do método.

Este artigo buscou resumir e direcionar o analista que irá fazer a aplicação e adequação do método de uma monografia oficial a escolher qual coluna cromatográfica utilizar como ponto de partida na etapa experimental.

E aí, já conheciam e fazem uso desses caminhos? Ou utilizam outra estratégia? Conte para a gente!

Links

USP

https://www.uspchromcolumns.com/

https://online.uspnf.com/uspnf/ e https://www.uspnf.com/pharmacopeial-forum/pf-legacy-pdfs

EP

https://extranet.edqm.eu/publications/recherches_sw.shtml

https://pharmeuropa.edqm.eu/home

BP

https://www.pharmacopoeia.com/

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